quarta-feira, 22 de junho de 2016

MACAU: Au Kam San quer mais estátuas das personalidades que marcaram o território











by Ponto Final

"O deputado sugere ao Governo que as personalidades que dão o nome às ruas do território tenham estátuas das individualidades em causa. Além disso, defende que as ruas com nome de cidades estrangeiras deviam ser caracterizadas como essas cidades.
O deputado Au Kam San quer que o Governo instale estátuas das personalidades que dão o nome às ruas da cidade, de forma a aproximar a população do território onde vivem e a propiciar um maior conhecimento sobre a história local. O pedido foi feito numa interpelação escrita, enviada no passado dia 10 ao Governo, no qual também é destacado o potencial turístico que esta sugestão pode acrescentar ao território.
“Muitas ruas têm o nome de pessoas, mas à excepção das estátuas de Xian Xing Hai, próxima da Avenida Xian Xing Hai, e da estátua de Sun Yat Sen, à entrada do parque Sun Yat Sen, as ruas só têm mesmo os nomes das pessoas”, começou por escrever o legislador.
A afirmação não é, no entanto, totalmente correcta uma vez que por exemplo o Jardim de Camões tem uma estátua do poeta, assim como também existe uma junto do Jardim do Carmo:  “Todas estas pessoas têm uma história ligada a Macau. O Governo não pode construir estátuas de bronze e explicar porque razão estas pessoas foram escolhidas para dar o nome às ruas? Era uma solução que promovia a história de Macau e aumentava a oferta de entretenimento na cidade”, defendeu o pró-democrata.
Entre os nomes das pessoas mencionadas e que podiam ter estátuas, Au Kam San refere o Comendador Ho Yin, pai do antigo Chefe do Executivo, Edmund Ho, o Governador Jaime Silvério Marques e o comerciante Anders Ljungstedt: “A anterior Câmara Municipal de Macau escolhia os nomes das ruas com base em cidades ou pessoas que tinham ligações com a história de Macau. Estas histórias fazem parte do território e como tal as pessoas de Macau deviam conhecê-las”, frisou.
Em relação às ruas com nomes de cidades, tal como as ruas de Roma, de Bruxelas, Coimbra, Porto, Goa, Pequim, Xangai ou Nagasaki, o pró-democrata pediu ao Governo que além de placas a explicar a atribuição do nome, que as caracterize com uma decoração que recorde estas cidades.
“Pode o Governo encorajar as lojas, através de subsídios, a adoptarem um decoração do estilo das cidades que dão o nome às ruas? Assim as pessoas conseguiriam facilmente identificar através da decoração se estava na rua de Londres ou Xangai”, explicou.
“Era um ponto que ia interessar aos turistas. Por exemplo, se um turista italiano chegasse a Macau e visse a Rua de Roma, depois podia ficar a saber entre a relação entre as duas cidades. Isto ia causar uma boa impressão sobre Macau e tornava-se num activo ao nível do turismo e lazer”, defendeu.


Já agora, ruadojardim7 recorda, com base no oportunamente publicado no mesmo jornal macaense:

"Maio de 2011

A maldição da estátua de Ferreira do Amaral

Foi o primeiro acto de ‘soberania’ da China, ainda em 1990. E a estátua de Ferreira do Amaral foi enviada para Lisboa, onde esteve quase uma década encaixotada. A última de muitas peripécias foi o seu recente entaipamento.

João Paulo Meneses
Nas últimas semanas apareceram na net (nomeadamente no blogue Macau
Passado) algumas imagens da estátua do governador Ferreira do Amaral, que vieram reforçar a má imagem que a generalidade da opinião pública, com interesse nesta área, tem sobre a colocação em Lisboa da referida estátua.
Essas imagens mostram a estátua emparedada por contentores de uma obra e sem visibilidade pública no jardim do Bairro da Encarnação, em Lisboa, onde se encontra desde o início deste século.
A situação foi entretanto resolvida, como as mais recentes imagens captadas pelo PONTO FINAL demonstram, mas não foi possível apurar o que levou os responsáveis a optar por tapar literalmente a frente da estátua. Os contactos feitos via e-mail para a Câmara de Lisboa ficaram sem resposta.
As obras, do metro de Lisboa, que vai passar naquele local, foram entretanto desviadas para o outro lado do jardim e apenas resta um mini-contentor numa das pontas desse espaço.
Quanto à estátua, há a registar o vandalismo de uma ‘tag’ e a deterioração da placa informativa, ali colocada no início deste século, que indica: “João Maria Ferreira do Amaral (1803-1849) Militar ilustre e Governador de Macau de 1846 a 1849. Morto, em 22 de Agosto de 1849, perto da porta do Cerco em Macau. A estátua, de autoria de Maximiliano Alves, foi inaugurada em 24 de Junho de 1940 e removida de Macau em Novembro de 1991. Representa Ferreira do Amaral defendendo-se dos seus agressores”.
A primeira ordem da China
Durante 51 anos a estátua esteve no mesmo local, tornando-se um ex-líbris da imagem do território, até pela presença, mais recente, do Hotel Lisboa – resistiu, portanto, ao “1,2,3”. 

E conferindo a Ferreira do Amaral um estatuto singular, o de único governador de Macau com uma estátua em Macau. Monsenhor Manuel Teixeira dizia muitas vezes que Ferreira do Amaral fora o único que merecera uma estátua.
Mas tudo se alterou na Primavera de 1990, quando o então responsável chinês pelos assuntos de Hong Kong e Macau, Lu Ping, disse que a China gostaria que fossem removidos os símbolos ou monumentos coloniais antes do final do período de transição. A declaração, que provocou muita polémica e foi criticada pelas autoridades portuguesas, pode ser vista hoje como uma espécie de pré-transferência do exercício da soberania.
A verdade é que, pouco mais de dois anos depois (Outubro de 1992), a estátua era retirada de Macau e enviada para Lisboa. A decisão final foi do governador Rocha Vieira, que herdou o problema do seu antecessor Carlos Melancia. Este, em declarações ao PONTO FINAL em 1999, explicou que “não quis deixá-la ao ‘Deus-dará’ para provavelmente ser submetida a vexames depois de 20 de Dezembro de 1999”.
Já o seu sucessor considerou que a estátua era a evocação de “um momento histórico entre Portugal e a República Popular da China num conflito que existiu e que hoje não tem sido recordado”.
A verdade é que, no momento da retirada, a justificação foi outra: obras na zona para construção do parque de estacionamento subterrâneo (e o ‘culpado’ foi o arquitecto que ganhou o respectivo concurso e que defendeu a remoção).
Ambos os ex-governadores garantem que se esforçaram para que fosse encontrado um local digno para a estátua em Lisboa ou noutro local. Mas a verdade é que o monumento esteve, quase toda a década de 1990, encaixotado num armazém da Direcção Geral do Património, até ser escolhido o discreto jardim do Bairro da Encarnação, junto ao aeroporto de Lisboa.
Rocha Vieira chegou a confessar que tentou que o monumento ficasse no antigo Jardim Colonial, mas sem sucesso.
A escolha do Bairro da Encarnação suscitou diversas críticas (por não haver qualquer ligação a Macau ou ao contexto histórico e por ser uma zona demasiado discreta da cidade), tal como a opção de anular o elevado pedestal que existia em Macau (ver foto).
Mas a família do governador, nomeadamente os seus trinetos Augusto (investigador histórico) e Joaquim (então ministro das Obras Públicas) Ferreira do Amaral, aprovou as várias opções. Augusto chegou a dizer que se trata de “um local muito digno, onde está muito bem”. Sobre o pedestal de Macau, “não faria sentido”, tendo sido construído outro, bastante mais baixo.
Já a autora do livro “Transição de Macau para a Modernidade, 1841-1853”, Maria Teresa Lopes da Silva, considerou que a estátua ficaria melhor num museu. E o ministro Ferreira do Amaral chegou a sugerir que fosse a Marinha, a que o seu trisavô pertencia, a assumir a colocação.
O discurso censurado
A ‘maldição’ de Ferreira do Amaral não atingiu apenas a estátua. Um dos mais caricatos episódios da administração portuguesa em Macau envolve um discurso censurado, porque o seu autor fazia algumas referências ao governador morto em 1849. Foi no 10 de Junho de 1990, na ressaca das afirmações de Lu Ping. Dias Loureiro era o representante do Estado português nas cerimónias do 10 de Junho mas ficou retido em Londres e não pôde ler o discurso que preparara. O então governador Carlos Melancia censurou o texto que Dias Loureiro não pôde ler, por entender que as referências elogiosas que o ministro fazia a Ferreira do Amaral eram desadequadas. O episódio – ainda hoje recordado – teve muito impacto, porque a versão original do discurso foi conhecida e, portanto, também as alterações que o então governador entendeu fazer.
A mini-mini-estátua
Não é uma estátua, nem nada que se pareça, aliás nem passa de uma pedra, mas dizem os registos que a rocha que se encontra no jardim do templo de Lin Fung (no Iao Hon, entre um viaduto e uma agência do Banco da China) é uma referência directa ao local onde Ferreira do Amaral foi morto. A pedra, com o símbolo português de então, um brasão da monarquia, é praticamente o que resta da memória do primeiro governador português em Macau, se exceptuarmos a praça com o seu nome. A pedra foi colocada no local do ataque, uma zona que era um descampado e que ficava na estrada para as Portas do Cerco, a poucas centenas de metros. A pedra não faz qualquer referência ao sucedido nem tem qualquer outra indicação escrita, o que contribuiu para que nunca tenha sido vista como um perigo, ao mesmo tempo que é desconhecida da esmagadora maioria da população de Macau.
No cemitério dos Prazeres
O seu trineto Joaquim disse um dia que “depois de ter sacrificado a vida, aceitou postumamente ser removido de Macau”. O envio da estátua foi, aliás, a segunda viagem de Ferreira do Amaral de Macau para Lisboa. Depois de assassinado em Agosto de 1948, o seu corpo foi trasladado para o cemitério dos Prazeres, em Lisboa, onde ainda se encontra. Para Monsenhor Manuel Teixeira, Ferreira do Amaral foi tanto “o governador mártir” como aquele que “ocupa o lugar cimeiro da história de Macau”. Enviado de Lisboa “para fazer disto Portugal”, disse também o padre-historiador, Ferreira do Amaral obteve várias vitórias, a principal das quais ter aberto caminho ao Tratado de 1887, que reconhecia a ocupação perpétua de Macau (e que a China nunca ratificou)."

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