sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Falemos de pulhas e pulhices ... e comparemos com as novas realidades*

* in "À Sombra da Minha Latada", de M.A., em edição de l980 (que esteve à venda por aí, nos locais próprios) 

Qualquer semelhança com o que, por vezes, se passa hoje é pura coincidência ... Mas, talvez por isso, e tendo em conta o que, por vezes, se "sente", nomeadamente, na pena de alguns "políticos e políticas" de serviço (ler, de quando em quando, por exemplo, o FACEBOOK) pode valer a pena rever um certo passado sem escrúpulos ... Gostavam de Vitorino Nemésio? Sim, não? Leiam.Até ao fim, já agora.

                                         ATÉ SEMPRE, MESTRE!
"Uma daquelas piruetas em que são exímios os mixordeiros da política fez com que o Prof. Vitorino Nemésio não chegasse a assumir o cargo de director de "O Século" e, portanto, eu, como responsável da documentação que era à data, não tivesse oportunidade de com ele trabalhar directamente. Ainda estou para saber, ao certo, o que aconteceu, mas o que tenha a certeza é de que até o artigo que fazia a sua apresentação como responsável por aquele diário, chegou a estar acabado e, salvo erro, o próprio professor já preparara o editorial em que se dirigia aos leitores pela primeira vez. Fazia-o, ao que sei, recordando uma velha passagem pelas colunas de "O Século" e salientava, assim, como que o reencontro com as suas páginas. Na empresa proprietária do jornal circulara, entretanto, uma "nota interna" convidando todo o pessoal para uma cerimónia de apresentação do novo director.

O que se passou depois não sei. O que sabemos todos é que Vitorino Nemésio nunca chegou a ser director de "O Século". Falou-se em manobra de bastidores junto de Moreira Baptista, sabe-se da criação de um movimento interno ao nível da redacção que era desfavorável à entrada do Mestre, mas tudo aconteceu como por magia em sentido inverso ao anunciado. E passado pouco tempo o interino Manuel Figueira era titular com "os mais amplos" apoios da redacção que logo a seguir ao 25 de Abril lhe haveria de mover cega perseguição, dizendo alguns claramente nos corredores que só lá estaria enquanto eles quisessem ... Vitorino Nemésio antes de 1974 não chegara a entrar; Manuel Figueira depois de 74 era figura a abater logo que necessário. A política de saguão é sempre a mesma e ninguém pode dizer que dela não será vítima.

Se o professor Nemésio tem encabeçado o jornal naquela altura teria, com certeza, dado nova alma a "O SÉCULO", mas o 25 de Abril tê-lo-ia apanhado à frente do órgão de informação que mais varrido foi pela loucura revolucionária de uns quantos lacaios frustrados, ao serviço não se sabe de quem, que tudo destruíram na fúria de tomar os "meios de produção" e controlar a informação - para enganar Portugal. Ainda bem que o professor não ficou como director de "O Século"; ainda bem que alguém se movimentou para não o deixar ser responsável pelo jornal. Sei que perdemos páginas da comunicativa prosa que não deixaria de nos oferecer se tivesse sido director de "O SÉCULO"; sei que não era homem para deixar de lutar, mas também sei que a vaga demolidora dos "arrivistas" do 25 de Abril não o pouparia, mesmo tendo tido contra si, ao que dizem, a corte de Moreira Baptista.

Entretanto, a disponibilidade assim ganha pelo Mestre foi aproveitada para outros tipos de comunicação e o País não perdeu, por isso, a sua palavra fluente e o seu saber de catedrático sentado no meio de nós em conversa aberta e familiar.

"Homem de recordação" lhe chamaram no dia do seu funeral. Recordar aquele que recordou, entendo dever dos que o conheceram de perto. Não fui seu aluno, mas ele foi meu Mestre porque Mestre de todos os portugueses. Por isso aqui o lembro.

- Querido professor, lá longe onde a minha voz tem dificuldade em chegar, lá onde a claridade é atmosfera, permiti que evoque a vossa memória.

Depois de "O Século" só estive convosco, através dos vossos escritos, até ao momento em que vos fui encontrar dirigindo um jornal ("O DIA"), quiçá, convidado pela mesma pessoa que não vos conseguira fixar, anos antes, em "O Século". Todavia, mal vos falei desta vez. Foi mais tarde, precisamente no ano passado que vos fui encontrar em casa, doente multiplicando todos de atenções e pedindo que vos visitassem, já que era dever fazê-lo a "enfermos e encarcerados" (ele - dizia - era as duas coisas).

Professor, pelo menos eu não o ignorei como outros fizeram logo que o souberam morto. A meu lado terei sempre o autógrafo amável em que no seu "Mau Tempo no Canal" me chama, muito generosamente, "bom camarada e amigo, benévolo leitor deste velho livro em que todo me dei". A minha filha, que mo ofereceu pelos anos, será a fiel depositária com que conto para que, cá em casa, o Mestre viva para sempre. A Bandeira Nacional que não quiseram que cobrisse o vosso ataúde há-de estar sempre na sua mão e ela não perderá a oportunidade de, mais tarde ou mais cedo, a fazer descer, ladeada de hortências, sobre a campa rasa onde, algures em Coimbra, o vosso corpo repousa, ouvindo ao longe o bulício da Universidade que não vos esquece.

Os corredores obscuros da mediocridade que vos impediram de ser o director de
"O Século" e que não deixaram que por eles passasse a bandeira nacional que deveria ter sido a cobertura do vosso caixão, hão-de ser derrubados e a luz surgirá então mais intensa do que nunca, ofuscando tudo o que entre os homens foram interesses passageiros. O mau tempo no canal há-de acabar para que o "Mau Tempo no Canal" continue."

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