terça-feira, 21 de julho de 2015

MACAU: "Vim para Macau para ser um semeador"


by Ponto Final

“Vim para Macau para ser um semeador”
Não tem o toque de Midas, mas tem um pé abençoado, capaz de fazer a diferença dentro das quatro linhas e de colocar a bola com precisão milimétrica em qualquer quadrante do terreno de jogo. Rei e senhor do meio campo do Chao Pak Kei, conduziu a equipa a um surpreendente terceiro lugar na última edição da Liga de Elite e o feito garantiu-lhe o aplauso unânime dos colegas de profissão. Diego Patriota foi distinguido pelos seus pares como o melhor atleta a competir nos relvados do território. O médio brasileiro está em Macau para ficar, confidenciou ao PONTO FINAL.
Marco Carvalho





PONTO FINAL - Diego, esta distinção como jogador mais valioso do Campeonato, é uma distinção com um carácter algo especial. Foi votado pelos seus pares – pelos outros atletas que alinham na Primeira Divisão do Futebol de Macau – como o melhor atleta a alinhar nos relvados da RAEM na temporada que agora acaba? Surpreendeu-o?
Diego Patriota: Surpreendeu, em parte. Muitas pessoas já me tinham dito que eu merecia uma distinção deste género, mas ninguém está verdadeiramente à espera de que algo do género aconteça. Foi um bom Campeonato e a minha equipa conseguiu chegar bem à recta final do Campeonato. Todos ficaram felizes com o facto de eu ter recebido esta distinção individual, mas estaria a mentir se lhe dissesse que  contava ser escolhido.
- E o terceiro lugar com o Chao Pak Kei? O objectivo era o terceiro lugar? Ou era ir um bocadinho mais  além?

D.P. - Nós ficamos em quinto ou em sexto na época passada. Na pré-temporada, que realizámos na China, falamos sobre os objectivos para este ano e a meta era chegar ao pódio. Era o que o treinador estava a pedir: era que chegássemos ao fim entre os três primeiros. Sabíamos que seria muito difícil lutar com equipas que tinham um orçamento bem maior que o nosso, como é o caso do Sporting, do Benfica, do Ka I e do Monte Carlo. Ainda assim, sabíamos que conseguiríamos chegar em terceiro, segundo ou primeiro lugar. Terminar em terceiro lugar, naquele que foi o terceiro ano do Chao Pak Kei na primeira divisão já foi muito gratificante e deixa-nos com muita esperança de que na próxima época possamos fazer algo melhor. Quem sabe se não poderemos, até, lutar pelo primeiro lugar.
Quem acompanha o futebol de Macau ficou bastante surpreendido com esse terceiro lugar, até porque, à excepção do Diego e do Bruno Figueiredo, o Chao Pak Kei não é uma equipa de estrelas. O Diego assumiu o papel de patrão ao meio-campo, mas faltam referências na frente de ataque, por exemplo. Com um ou outro jogador mais talentoso, o Chao Pak Kei poderia ter chegado mais longe?

D.P. - Penso que sim. Mas devo dizer que acredito bastante no projecto do presidente do clube e do treinador, que passa por incentivar os jogadores locais: passa por fazer com que joguem e ganhem experiência e que possam ganhar confiança dentro das competições que o Chao Pak Kei tem vindo a disputar. Ainda assim, concordo consigo. Um ou outro jogador estrangeiro, um ou outro residente não permanente que nos pudesse ajudar, fariam o Chao Pak Kei mais forte. Talvez pudéssemos terminar uma posição mais acima e bater mais de frente com as duas equipas que nos superaram na classificação. Ainda assim foi muito bom, o resultado obtido este ano foi excelente e deixa-nos com muita esperança para a próxima época.
- Na próxima época vai voltar, então, a alinhar com a camisola do Chao Pak Kei? Ou vai dar o salto para outra equipa?

D.P. - Eu tenho contrato com o Chao Pak Kei e o meu visto de trabalho tem por base este contrato que tenho com o Chao Pak Kei, mas o presidente do clube deixa a porta aberta para a saída. Se aparecer algum interesse de outro clube e o negócio for viável para ambas as partes, uma transferência não é impossível. Mas em princípio na próxima época vou continuar o trabalho feito e regressar ao Chao Pak Kei em 2016.
-Foi a segunda época que cumpriu com o Chao Pak Kei …

D.P. - Isso …
É um grupo de trabalho onde se sente confortável?

D.P. - É. Devo dizer que esse é precisamente o caso. O objectivo, tanto do presidente como do treinador, passa por construir uma família onde cada um tem funções bem definidas: os jogadores estrangeiros chegam com o objectivo de dar algo aos jogadores locais com  o objectivo de construir um grupo mais homogéneo. O grupo de trabalho do Chao Pak Kei é um grupo muito homogéneo: os locais dão-se muito bem com os estrangeiros, damo-nos muito bem com eles dentro e fora das quatro linhas e isso, depois, reflecte-se também dentro de campo.
Há talento no futebol de Macau sem ser o talento importado? Dizia há pouco que um dos objectivos da equipa seria utilizar a experiência e o talento dos jogadores que vêm de fora para criar algumas mais valias locais? Há jogadores talentosos no Chao Pak Kei e, de um modo geral, no Campeonato?
D.P. - Sim, há. Há jogadores locais, no Chao Pak Kei, com grande talento. O Ho Ka Seng, o número 9, fez uma belíssima época e por mim teria ganho o prémio de revelação do Campeonato, apesar de o Chan Man ser muito bom jogador. Hoje, é sem dúvida o melhor jogador de Macau. O Chan Man já é, ainda assim, uma realidade: joga na primeira divisão, continua a dar nas vistas e desde que eu cheguei, em 2013, que se fala no Chan Man do Monte Carlo, no Chan Man do Monte Carlo. Este ano ele provou mais uma vez que ainda é o melhor atleta de Macau a actuar no futebol local, mas o Ho Ka Seng e o Kou Ut Cheong são jogadores de 18, 19, 20 anos que têm muito para ganhar em experiência, mas que têm muito para dar. As outras equipas também têm muitos jogadores locais que têm dado nas vistas e têm agradado bastante.
Este escalonamento final do Campeonato: Benfica, Ka I, Chao Pak Kei … É um escalonamento justo, do seu ponto de vista?

D.P. - Penso que sim. O Benfica mereceu o título, em primeiro lugar, pela organização que tem, pelo plantel que tem, pela estrutura que tem. Há jogadores que jogam no Benfica há uma série de temporadas: jogavam no Benfica quando eu cheguei em 2013 e ainda estão a actuar em 2015. É uma equipa consolidada, com uma base muito forte. O Ka I fez um brilhante trabalho pela mão do Joseclér. O Joseclér apanhou uma equipa desmembrada, com três ou quatro jogadores locais e conseguiu fazer uma equipa forte. O Joseclér é alguém que tem uma grande capacidade de trabalho. Talvez a maior surpresa tenha sido o facto de termos terminado em terceiro lugar, disputando o lugar com o Monte Carlo e com o Sporting, que são equipas que têm orçamentos maiores do que nós. Sabíamos que poderíamos lutar pelo terceiro lugar. Tínhamos equipa para isso e tínhamos confiança para isso e foi isso mesmo que aconteceu. Acho que ficou bem ordenada, a classificação. Por tudo o que fizemos na época, parece-me que ficou bem ordenada.
Falava no grupo de trabalho consolidado do Benfica. O Benfica vai voltar a levar o nome de Macau às competições asiáticas, ainda que numa fase muito preliminar. Tem consolidação suficiente para que possa fazer algo de bom fora de portas? Ou o futebol de Macau ainda é demasiado frágil para isso?

D.P. - Não. Vai depender, sobretudo, se os atletas não-locais puderem jogar. A Confederação Asiática de Futebol ainda está a tramitar o pedido do Benfica no sentido de perceber se jogadores como o Filipe Duarte, o Cuco e o Edgar Teixeira podem jogar como locais. Se a Confederação Asiática permitir que joguem como locais, o Benfica terá boas hipóteses porque tem uma estrutura forte. O trabalho do Bruno Álvares é bom e a metodologia do Bruno já foi entendida pelo grupo. Pelo que sei, há outros jogadores que vão dar uma ajuda ao Benfica neste processo e que poderão acrescentar algo à equipa. Creio que o Benfica pode fazer algo de bom besta deslocação. Se os jogadores do Benfica interiorizarem a importância de uma competição a nível asiático, a nível continental, se eles entenderem isso e deixarem o coração em campo, eu penso que o Benfica tem hipóteses fortes. Procuramos obter algumas informações sobre as outras duas equipas e o que me disseram foi que são equipas que não jogam um futebol muito mais refinado que o futebol que se disputa em Macau. Pode ser que sejam equipas que treinam duas vezes por dia e, se for o caso, estarão em vantagem. Ainda assim eu acredito que o Benfica pode fazer dois bons jogos e pode seguir para a segunda fase da competição.
Vestiu recentemente a camisola do Benfica, ainda que de forma um tanto ou quanto acidental, numa partida entre o campeão de Macau e os melhores do Campeonato. Supostamente devia estar do outro lado. Isto é um indício de alguma coisa ou ...

D.P. - Não, não. Se for é de falta de comunicação. A selecção dos melhores do Campeonato integrava dois jogadores por clube e, por uma falta de comunicação, acabaram por jogar o Ismael Ortega e o Ronald Cabrera em representação do Chao Pak Kei, que são dois jogadores paraguaios. O Filipe Duarte ligou-me uns dias antes e disse-me que não tinha jogadores suficientes e perguntou-se se eu poderia ajudar. Falei com o presidente do Chao Pak Kei sobre a questão e ele mostrou-se muito receptivo e muito aberto à questão e disse-me que não havia qualquer problema. Joguei para ajudar os meus amigos: o Filipe Duarte, o Cuco, o William são todos bons amigos meus …
Seria um adaptação fácil, então?

D.P. - Pois... O Nicholas Torrão, com quem trabalhei um ano, é outro bom amigo. Mas esse jogo com o Benfica só foi mesmo para ajudar...
No onze da época há vários jogadores brasileiros: alguns chegaram o ano passado, outros estão cá em Macau há bastante mais tempo. Os jogadores brasileiros fazem a diferença num território que tem o tipo de futebol que tem Macau?

D.P. - Fazem, mas os outros estrangeiros que aqui alinham acrescentam bastante. O próprio Christopher Nwarou, que joga como local mas que é estrangeiro, é alguém que contribuiu muito e continua a contribuir para o futebol de Macau. Já por cá joga há bastante tempo. Os portugueses do Benfica deram um contributo imenso para elevar o nível do futebol de Macau, mas ficou provado, uma vez mais, que os atletas brasileiros – o William, o Batista – este ano fizeram um boa época e ficaram um passo à frente da maior parte dos atletas que aqui alinham. Os resultados mostraram isso.
No seu caso específico, jogador mais valioso do Campeonato. O Diego Patriota é, de facto, alguém que faz a diferença dentro de campo. Isto para lhe perguntar: o futebol de Macau não é pequeno de mais para quem tem talento, como é o seu caso? Um eventual regresso ao Brasil não o motiva, nem faz parte dos seus planos?

D.P. - Faz parte dos planos, mas eu convenci-me a mim próprio que vim para Macau para ser um semeador. Quando eu entendi isto, quando eu interiorizei isto as coisas começaram a correr bem melhor do que corriam quando eu cheguei. Obviamente que quando se vem de um país como o Brasil e quando já se teve experiência na Europa – eu joguei na Europa, joguei na Croácia – se olha para o futebol com uma certa visão: aqui os jogadores são confrontados com algo que está nos antípodas. O facto de não se treinar todos os dias, de nem sempre termos campos, de nos vermos a treinar em campos de futebol de sete, como são os recintos do Hóquei e do Sam Yuk, a princípio são questões que criam uma certa barreira em atletas profissionais. Quando me convenci de que poderia ser um semeador para que alguém possa vir colher posteriormente, eu comecei a entender melhor a cidade, a cultura e a cultura futebolística do local. Hoje eu estou aqui para acrescentar. A minha família, a minha esposa está cá em Macau, temos uma vida estável, com boas condições – a cidade oferece-nos boas condições de vida – e a situação económica do Brasil, como sabe, está longe de ser a melhor. Eu quero ficar aqui por algum tempo para que eu possa ver o trabalho que está a ser conduzido dar certo. Quero ver esta sementeira frutificar e poder ver alguém vir colher melhorias a cada ano que passa.
Falava de algumas pequenas questões que dificultam o desenvolvimento da modalidade cá em Macau. Continua a ser um desafio jogar futebol no território?

D.P. - É um desafio manter o foco como jogador profissional. Se perder a noção de qual é o seu papel e o seu estatuto, as coisas não irão dar certo dentro de campo. Posso dizer que vi vários jogadores passarem aqui, com altíssimo nível e altíssima qualidade técnica, mas que acabaram por perder a cabeça. Foram jogadores que perderam a concentração, que perderam a motivação de serem profissionais. Quando um jogador perde a confiança em si mesmo, quando se deixa afectar pela parte psicológica, as pernas não obedecem. É isso que se passa: se perder a cabeça é muito provável que um atleta profissional não consiga ser bem sucedido em Macau. É necessário confrontar as barreiras e os obstáculos que a cidade ainda impõe e que o futebol local ainda impõe.
- São barreiras e desafios de monta, como referia há pouco: há a falta de campos para treinar, a falta de disponibilidade dos colegas de equipa – que não são profissionais – para participar nos treinos. Isto são questões que, como dizia, podem desmoralizar um atleta, se os resultados não começarem a aparecer?

D.P. - É óbvio que sim. Concordo consigo quanto a isso. O facto de os locais não comparecerem aos treinos cria algumas dificuldades. Mas se um atleta estiver ao corrente das fragilidades do futebol local, estiver consciente das dificuldades que o futebol local oferece e se render a essas dificuldades, acaba por não fazer a diferença que se espera que faça e às vezes acaba por ser mais criticado por todos, porque obviamente é isso que é exigido. É um profissional, trabalha como tal a tempo inteiro e é óbvio que tem de fazer a diferença dentro de campo, até porque recebe para isso. Às vezes, se não souber – e eu torno a dizer se não souber manter o pensamento e a parte psicológica focada naquilo que veio fazer – acaba por ser muito, muito criticado e as críticas vão fazer com que se sinta mais em baixo porque, como lhe dizia, está cá para fazer a diferença.
É possível ser-se única e exclusivamente jogador profissional em Macau? No seu caso, complementa a actividade com um emprego a tempo parcial …

D.P. - É possível. Os próprios atletas do Ka I e do Benfica são disso um exemplo. São estritamente atletas profissionais em Macau. No meu caso, tenho um part-time na área do treino funcional, que é uma área de que gosto e na qual tenho vindo a adquirir competências. Tive oportunidade de fazer alguns cursos cá em Macau, pelo Instituto Politécnico e pelo Instituto do Desporto e surgiu a oportunidade de eu trabalhar com um grupo de mulheres, de as ajudar na parte física, no âmbito de um programa de treino funcional. Ainda assim, há jogadores no Benfica, no Monte Carlo, no Sporting e no Ka I que são estritamente jogadores profissionais.
O treino funcional é também uma forma de preparar o futuro pós-futebol? Este aspecto é algo que o incomoda? O futebol implica sempre uma carreira breve e é também uma profissão de risco, porque basta uma lesão para derrubar uma carreira. O futuro pós-futebol é algo que preocupa?

D.P. - Sim. Falava das lesões e eu sou prova viva disso. O ano passado, segundo os médicos, se eu não tivesse operado o olho dois dias depois de ter sofrido uma lesão no sobrolho, eu teria corrido sérios riscos de perder a visão. A lesão ocorreu no jogo frente ao Ka I, entre o Chao Pak Kei e o Ka I e eu penso muito nisto. Sempre disse a mim próprio que o futebol é o que eu faço hoje e não é o que eu farei amanhã. Essa lesão no olho levou-me a pensar de forma ainda mais vincada na precariedade que enfrento enquanto jogador. O médico disse-me “Se não for operado já amanhã, pode perder totalmente a visão no olho direito.” Não daria, obviamente, para jogar de forma assim tão limitada. Esta lesão acabou por vir em boa hora. O futebol local faz com que os atletas comecem a equacionar outras soluções já a pensar no pós-futebol. O ritmo de desenvolvimento lento com que o futebol local nos confronta faz com que comecemos a amadurecer ainda mais e a passos mais largos a ideia de um futuro pós-futebol. Penso muito no que posso vir a fazer quando me retirar dos relvados.
- O facto de Macau ser casa de uma comunidade brasileira significativa, ajuda à integração? Ou não é o caso? Sente-se acarinhado pelos brasileiros que vivem em Macau?

D.P - Claro. A comunidade brasileira que reside em Macau é uma comunidade muito acolhedora. De certa forma vai ao encontro daquilo que é o perfil brasileiro: os brasileiros são hospitaleiros, são acolhedores por natureza. Devo dizer que fiquei muito surpreendido com outros tipos de comunidade. A própria comunidade portuguesa é um bom exemplo: sinto-me muito bem com a comunidade portuguesa. O mesmo sucede com a comunidade chinesa. Estou numa equipa que tem muitos atletas chineses e fomos sempre muito bem recebidos, muito acarinhados por eles. Este factor facilitou muito a minha adaptação: há, de facto, uma comunidade que me faz sentir em casa e que é constituída pelos meus conterrâneos, mas as outras comunidades também facilitaram em muito a integração e a adaptação a Macau.
Dizia que há talento a nível local, mas os resultados da Selecção, por exemplo, estão longe de ser os melhores. O que falta para que Macau se possa começar a afirmar também enquanto Selecção a nível internacional?

D.P. - Eu dizia há pouco que há talento, mas os jogadores com algum talento precisam, ainda assim, de ser trabalhados. Gosto do trabalho do Tam Iao San, do treinador da selecção local, mas a mentalidade dos jogadores locais ainda não é profissional. Em abono da verdade, eles também não são assalariados. Também não são pagos para isso. A maior parte deles ou estuda ou trabalha e eu entendo perfeitamente o que lhes passa pela cabeça. Percebo porque razão faltam aos treinos e a razão porque não se dão por completo dentro de campo, a exemplo do que nós fazemos enquanto profissionais. Isto é algo que se reflecte dentro de campo. Vê a Selecção local e os jogadores que a integram a treinar três vezes por semana nos clubes que representam. Isto não acontece noutro locais. Basta olhar para o próprio Camboja, que enfrentou Macau na eliminatória para o Campeonato do Mundo, para perceber que se trata de jogadores que treinam duas vezes por dia e que alinham em equipas profissionais, ainda que num futebol emergente como é o futebol cambojano, mas são jogadores profissionais. Têm a cabeça focada na obtenção de resultados, a metodologia de trabalho está para lá direccionada também. Os jogadores locais pecam por isso. A Selecção local peca por isso porque é necessário melhorar também o espírito de entrega dos jogadores locais para que ele dentro de campo jogue como se fosse, realmente, um jogador profissional.
A Selecção parece estar presa entre duas tendências: uma de se conservar totalmente como uma selecção local, a outra de convidar atletas que alinham em Macau a dar o seu contributo à equipa. Tivemos um jogo amigável recentemente onde alinharam jogadores como o Filipe Duarte  ou o Cuco. No seu caso, se um dia o convite chegasse para representar Macau, aceitava ou não?

D.P. - Aceitava, aceitava. Aceitava porque eu enraizei-me nesta cidade que tão bem me recebeu. Seria um prazer, falando do fundo do coração. Seria um prazer representar Macau e não sou o único a nutrir esta ambição. Já conversei com vários outros jogadores brasileiros que dizem o mesmo. Que dizem que seria um prazer enorme. Fomos conquistados pela cidade e pelo futebol, como semeadores, como dizia e seria um prazer. Nós estamos, ainda assim, cientes das dificuldades. Somos trabalhores com “blue card”, não temos BIR. Mas quem sabe? O futuro a Deus pertence.
Como é que Diego Patriota se venderia a um clube ou a um empresário, se fosse caso disso? Quem é Diego Patriota?

D.P. - Nunca tive essa oportunidade, mas o Diego coloca o profissionalismo acima de tudo e valoriza muito tudo o que está além do campo. Não adianta chegar a um clube e dizer que eu jogo tão bem como o Messi ou o Cristiano Ronaldo. A minha vida fora de futebol, se for uma vida desregrada, se for uma vida dissoluta não ajuda à reputação que quero manter dentro de campo. Se eu tivesse que me definir, deixaria que os outros falassem por mim. Nunca gostei de ser autobiográfico e o mesmo se passa no futebol: não gosto de dizer que jogo ou assim ou que jogo assado. Qualquer jogador tem material para isso, que fala pelo seu talento e mostra como um jogador joga. Ainda assim, creio que sou alguém que tenta ser profissional a tempo inteiro, seja dentro do campo, seja fora das quatro linhas. Às vezes as coisas não correm bem dentro de campo com um ou outro companheiro porque o factor humano é descurado. A cobrança que eu tenho de tentar obter da parte dele não tem que existir apenas dentro de campo. Eu tenho que ser capaz de me sentar com ele fora de campo e de tentar saber como está a família, como está o filho, como está a esposa, como está a mãe e o pai.  Isto também é ser profissional porque isto vai-se reflectir dentro de campo. Se eu tivesse de me auto-vender a alguém era assim que me definiria: como alguém que tenta ser profissional, dentro e fora de campo. Alguém que tenta ajudar dentro e fora de campo e tenta ser o mais correcto possível, a melhor pessoa possível e ajudar da melhor forma possível...
Especialista em bolas paradas e um médio com uma qualidade rara que é a de marcar muitos golos. É uma característica que começa a desaparecer. O futebol está a mudar também?

D.P - Está. A mudança na marcação é hoje muito forte. Eu posso dizer que eu fui privilegiado com um esquema que o Inácio Hui montou para privilegiar o meu futebol. Ele disse-me a certa altura: “Tu és quem pensa por nós. Se eu te obrigar a fazer frequentemente marcação atrás, vai-te faltar fôlego, vai-te faltar físico para fazeres aquilo que estás aqui para fazer. Foste contratado para pensar. Quem vai correr atrás são os outros que eu contratei e que eu convidei. Mas hoje o futebol está a mudar: os médios criativos por vezes recuam para ajudar à defesa e a cabecear bolas atrás. Não é que haja algo de errado com isto. Acho que um atleta tem de se adaptar a tudo na vida e se o futebol está a mudar, também é necessário mudar e evoluir, mas hoje começa-se a perder um pouco da criatividade dos número 10 por causa disso. Há a necessidade de uma marcação forte: um médio tem que marcar a toda a hora e esta opção está a ter algum impacto na criatividade das equipas.
O futuro, dizia, deverá passar pelo Chao Pak Kei de novo. Em termos pessoais, o objectivo é repetir esta façanha de ser o melhor jogador do Campeonato de Macau?

D.P - O principal é ajudar a minha equipa da melhor forma possível. Esse é o meu objectivo. Eu não entrei este ano no Campeonato para tentar ser o melhor, até porque com as dificuldades que me estavam reservadas com a minha equipa, no início do Campeonato era algo que não se afigurava possível. Sucedeu porque me dediquei da melhor forma possível para ajudar o Chao Pak Kei e os resultados individuais e os golos apareceram. Esse vai ser novamente o meu grande propósito: passa por ajudar o Chao Pak Kei da melhor forma possível para que os objectivos traçados possam ser alcançados. Se, pelo caminho, conseguir conquistar novamente prémios individuais, ficarei obviamente muito feliz. Não posso dizer que não seja um objectivo, mas a prioridade é ajudar os meus companheiros, é conquistar aquilo a que nos propomos. Depois veremos quanto ao resto."

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