quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Macau: não especializados num território cheio de dinheiro fácil


by Ponto Final
larry soAcadémicos defendem salário mais elevado e assistência médica para estes trabalhadores.

Salários baixos e dias longos de trabalho com apenas uma folga semanal, muitas vezes aproveitada para fazer biscates, são o denominador comum dos trabalhadores migrantes não especializados em Macau, cada vez mais pressionados pelo custo de vida.
Mais de 100 mil dos 167.272 trabalhadores não residentes de Macau são oriundos do interior da China. Filipinas e Vietname completam os três primeiros lugares da tabela, com 21.263 e 13.344 nacionais desses países com visto de trabalho no território, segundo os mais recentes dados do Gabinete para os Recursos Humanos. A população está estimada em 631 mil pessoas.
“A maioria dos trabalhadores não especializados em Macau vem do interior da China e dos países do sudeste asiático, onde não há muitas oportunidades de trabalho”, afirma Larry So, professor do Instituto Politécnico (IPM), por ocasião do Dia Mundial do Migrante e Refugiado, que se celebra hoje.
“Os salários que recebem em Macau não são bons, mas são aceitáveis para os padrões de vida dos seus países de origem”, explica. O académico considera, no entanto, a situação dos trabalhadores migrantes tem vindo a piorar: “As rendas estão a subir e muitas vezes eles vivem em condições indecentes”.
No caso das empregadas domésticas, Larry So aponta que as 500 patacas para custos de alojamento “não chegam para alugar uma cama num quarto”. “É impossível. O valor não é humano”, frisa. O salário base das empregadas domésticas não residentes em Macau é de 2500 patacas, um valor que a também investigadora do IPM Cecilia Ho sugere que aumente para 3800 patacas para ficar equiparado ao índice mínimo de subsistência.
O seguro é outro dos pontos críticos que denotam a fragilidade destas trabalhadoras. “Estamos a falar de coberturas muito básicas”, avalia Larry So:
“A questão dos seguros e da assistência médica para estes trabalhadores é fundamental”, sublinha.
Por outro lado observa que a contratação de não residentes é fonte de “vários conflitos sociais, porque os migrantes estão a tirar um lugar que podia ser ocupado por um local”. “Se as empresas conseguirem quotas para contratar trabalhadores estrangeiros vão fazê-lo porque preferem pagar menos”, argumenta.
Nos casinos, a posição de ‘croupier’ é garantida exclusivamente para os trabalhadores locais, mas os estrangeiros podem trabalhar, por exemplo, nas áreas da segurança e restauração. “Assim que tenham hipótese vão querer ir trabalhar para os casinos, e alguns migrantes – nomeadamente do sudeste asiático, como as Filipinas – vão estar em vantagem porque falam inglês”, explica.
Ao defender uma “política mais humana” para os trabalhadores estrangeiros, Larry So frisa que o governo “precisa de incluir estas pessoas na definição da política demográfica do território. “Sem os migrantes, a população local vai envelhecer muito rapidamente, com todos os problemas que daí decorrem, por exemplo, ao nível da segurança social”, conclui.

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