segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Desobediência civil reprimida em Hong Kong


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PONTO FINAL
PF 3086-1As forças de segurança dispararam várias granadas de gás lacrimogéneo e houve pelo menos 30 feridos. A organização das manifestações chegou a pedir o recuo, mas ao início da madrugada de ontem os protestos tinham-se alargado.

Mais de três dezenas de pessoas ficaram feridas, ontem, na sequência da intervenção da polícia em Admiralty, Hong Kong, onde se concentraram ontem dezenas de milhares de pessoas se concentram na sequência dos protestos de estudantes inseridos no movimento de desobediência civil contra a proposta de reforma política apresentada pelo Governo Central para as eleições do Chefe do Executivo em 2017. Pequim limita o número de candidatos e obriga à nomeação destes por órgão colegial, antes do voto pela população.
Os dados relativamente ao número de feridos foram apresentados pelo secretário para a Saúde da região vizinha, Ko Wing-man, sem discriminar entre os feridos quantos destes eram manifestantes ou agentes da polícia. Os feridos resultaram do lançamento de várias granadas de gás lacrimógeneo por unidades de intervenção da polícia da RAEHK.
Só entre as 19h e as 20 de ontem, foi registado o lançamento consecutivo de oito destas granadas num local de grande concentração de manifestantes, com os agentes a tentarem dispersar os protestos exibindo cartazes onde se podia ler, entre outras mensagens, “Dispersem ou nós atiramos”.
Apesar dos avisos, as forças de segurança de Hong Kong negaram ontem ter disparado balas de borracha sobre a multidão. A Federação dos Estudantes de Hong Kong, no entanto, acusa a polícia de ter disparados projécteis, sem saber precisar se seriam efectivamente balas de borracha, avançava ontem a rádio e televisão pública de Hong Kong.
Ao início da madrugada de segunda-feira, hora de fecho deste jornal, os manifestantes mantinham a mobilização, embora com menor concentração de pessoas em Admiralty, havendo relatos de marcha dos manifestantes em direcção à zona de Causeway Bay após a concentração anterior nas zonas de Admiralty, Central e Wan Chai. os proestos alastraram também à zona de Kowloon, com manifestantes concentrados em Mong Kok.

Joshua Wong e deputados em liberdade
O jornal Apple Daily, do grupo de media Next, do empresário Jimmi Lai (apoiante do movimento Occupy Central), esteve entre os media que mantiveram a transmissão em directo permanente dos acontecimentos de Admiralty, chegando a atingir mais de 79 mil visualizações simultâneas.
As imagens transmitiram os fortes momentos de tensão vividos ao início da noite de ontem, em que a forte intervenção da polícia não desmobilizou a mancha humana. O impasse junto ao cordão policial manteve-se durante várias horas, com algumas cadeias de televisão estrangeiras a realizarem directos junto da barreira policial onde os agentes de segurança preparavam o arremesso de novas bombas de gás lacrimogéneo. Os manifestantes erguiam os braços, em sinal de intenção não violenta, antes do arremesso de novas granadas.
As forças de segurança acabariam por suspender o lançamento dos projécteis em Admiralty, registando-se alguns avanços dos manifestantes em direcção à sede do Governo de Hong Kong. Os estudantes, já acompanhados de várias outras pessoas que se uniram ao protesto, entoavam o refrão da música “A brighter future” da banda de Hong Kong Beyond.
O protesto estudantil de boicote escolar, iniciado há uma semana, acabou na sexta-feira por precipitar o início do movimento de desobediência civil Occupy Central, liderado por Benny Tai, que inicialmente se esperava que tivesse início apenas a 1 de Outubro, data das celebrações do Dia Nacional. O movimento foi desencadeado após a detenção de vários alunos que se haviam concentrado no complexo Tamar, entre estes Joshua Wong, líder do grupo Scholarism, libertado já durante a noite de ontem.
Também os deputados do campo pró-democracia Emily Lau, Albert Ho, Fernando Cheung, Yeung Sum, tal como o académico Jospeh Cheng, foram detidos na noite da última sexta-feira, acabando por ser libertados ao final da noite de ontem.
A dimensão geográfica dos protestos não parou de crescer durante o dia e a noite de ontem, para além dos números, com a Federação de Estudantes de Hong Kong a pedir aos manifestantes que regressassem a casa para voltarem no dia seguinte.
O cardeal Joseph Zen, que se manteve também junto dos organizadores dos protestos, apelou igualmente ao final da noite de ontem para que os manifestantes deixassem as ruas. “Não queremos que ninguém fique ferido. Uma vitória com vidas sacrificadas não é uma vitória”, disse, citado pelo South China Morning Post.
O Governo da RAEHK apelou ontem, sem sucesso ao fim do “caos”, através de um porta-voz, lembrando a organização do movimento da promessa feita de desmobilizar as multidões caso a situação saísse fora de controlo.


Consciência de Macau condena acção policial
O grupo Consciência de Macau, liderado por Jason Chao, emitiu ontem um comunicado de condenação da acção policial em Hong Kong contra os manifestantes do movimento de desobediência civil. A organização condena “fortemente o uso da força pelo Governo da RAEHK contra cidadãos desarmados que participam numa reunião pacífica”.
“Instamos as autoridades de Hong Kong a dar um resposta aos estudantes e cidadãos que exigem o retomar dos procedimentos de reforma política”, afirmou a organização na nota que aplaudia também a libertação de Joshua Wong, líder do movimento Scholarism. “As autoridades de Hong Kong devem abster-se de distorcer a definição de sufrágio universal e garantir direitos políticos iguais para os cidadãos de Hong Kong”, acrescentou.

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