segunda-feira, 25 de agosto de 2014

MACAU - "Mais vale vergar do que quebrar?"


Mais vale vergar do que quebrar?

 by Ponto Final
Maria Caetano
As pessoas do primeiro sistema sabem aquilo com que podem contar. As pessoas do segundo sistema não. Habituamo-nos a esperar o provável exercício e respeito do Estado de Direito, pelas autoridades de segurança, pelos tribunais, último garante de que a lei nos defende de injustiças, violações e ilegalidades. Estará na altura de começar a esperar o pior, por via de má-fé, pressão, alimentação de equívocos, transposições oblíquas e desonestas da letra da lei ou de um acórdão de um tribunal.
Aparentemente, em tempo de guerra não se limpam armas, nem consciências, nem imagem. Mais do que estar com a razão, importa estar com quem manda e pode, cada vez mais pela arbitrariedade flagrante, dispor de nós a cada momento, dos nossos negócios e da nossa situação.
De modo que qualquer traição ao próprio e às evidências surge bem defendida, hoje, com a possibilidade de se estar no círculo próximo de influência, numa espécie de assessoria à governação por via da qual se será bem sucedido a encarreirar as coisas por dentro e com muita harmonia. Os assessores podem sempre alegar que não é uma rendição, é diálogo, e sentirem-se próximos das decisões. Os restantes são “radicalizados” condenados ao fracasso.
Confere. Vai conferindo. Mais vale vergar do que quebrar. Mas não vem proveito ao mundo nem a Macau, nem qualquer alegado exercício de influência subtil é real, como constataremos todos mais cedo ou mais tarde.
A desonestidade do ciclo que estamos a viver é óbvia para tantos. A indiferença que alguns julgam existir perante as condições políticas em que Macau se encontra não é livre de censura ou aversão. A vida prossegue, mas com desdém cada vez maior pela classe dirigente, pelos seus assessores, nomeados e tácitos.
Apenas alguns se deixam deter, teimosamente, numa acção que, mais que qualquer coisa, denuncia. Os resultados positivos são esses, sim, os de uma chamada de atenção. E que mal tem isso? É demagógico, populista? Que todos os males sejam esses. Na verdade, não há demagogia em extremar as condições que testam a sanidade do sistema. Há um compromisso com a saúde, expondo as maleitas que é necessário prevenir e curar. Os panos quentes nada tapam.
Aquilo que aconteceu ontem, a detenção de cinco dos promotores do chamado referendo civil com base em pressupostos desconexos e desonestos, é a todos os títulos de lamentar e denunciar. Quando a ilegalidade é cometida por quem tem de zelar pelo cumprimento da lei, temos medo. E o objectivo talvez seja esse, o de amedrontar.

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