quarta-feira, 4 de junho de 2014

Palavras cruzadas XXVII - Portugal

Segundo Teixeira de Pascoaes

"Portugal é uma Raça, porque existe uma Língua portuguesa, uma Arte, uma Literatura, uma História (incluindo a religiosa) - uma actividade moral portuguesa; e, sobretudo, porque existe uma Língua e uma História portuguesas.

 A faculdade que tem um Povo de criar uma forma verbal aos seus sentimentos e pensamentos, é que melhor revela o seu poder de carácter, de raça.

Por isso, quanto mais palavras intraduzíveis tiver uma Língua, mais carácter demonstra o Povo que a falar. A nossa, por exemplo, é muito rica em palavras desta natureza, nas quais verdadeiramente se perscruta o seu génio inconfundível."

Para José Hermano Saraiva

"O povo português resultou (...) de um milenário processo de miscigenação de sangue e de sucessivas sobreposições culturais. A pré-história modelou um determinado tipo humano,mas não definiu uma raça."

Em Miguel Torga

"Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que não te desfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura
Serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil

Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço,
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço:

Teimoso aventureiro da ilusão,

Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado."

Alexandre O'Neill

"Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, a sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cega-rega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico que era mais barato!"

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