quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O aeroporto de Beja

in À Sombra da Minha Latada, de MA (com actualização)

Convocam-se plenários. Discute-se. Ouve-se o que se gosta e o que não se gosta. Cochicha-se. Sai-se. Entra-se de novo. Segreda-se ao ouvido da presidência. Volta-se. Nomeiam-se comissões. Que discutem. Que cochicham. Que segredam. Que nomeiam subcomissões que procuram obter pareceres técnicos, primeiro nacionais e depois estrangeiros.



Chovem relatórios. Despachos que despacham. Despachos que ordenam. Ordenam mais pareceres de novas subcomissões. Que reúnem. Amanhã e quinze dias depois. Para dar tempo. Tempo a um estudo mais profundo. O assunto tem várias implicações não só políticas como económicas e sociais. É preciso ouvir, por isso, diversos ministérios. Que reunirão em plenário. Onde se ouvirão coisas agradáveis e outras que o não serão. Onde se cochichará. E se nomearão comissões que, por sua vez, delegarão em subcomissões que farão mesas redondas entre si. E, mais tarde, trabalharão em equipa que, inicialmente, não será interministerial.

Mas virá depois uma ordem, UMA ORDEM. Há que reunir agora interministerialmente.

Minutam-se cartas.Fazem-se horas extraordinárias. Correm os contínuos. Preparam-se antecedentes. Descobrem-se falhas. Procede-se a uma reconstituição. Telefona-se para a 1ª Repartição. Almoça-se com o chefe da 2ª. Em segredo. Prepara-se tudo para a interministerial. Obtêm-se os nomes dos outros participantes. Informa-se o director que nada sabia. E que, logo a seguir, chama a secretária e o contínuo ao mesmo tempo. Ouvem-se ordens. Tocam telefones. Fazem-se reuniões. Interministeriais. Ministeriais. Plenárias. Especializadas. Discute-se. Segreda-se. Cochicha-se. E dactilografam-se relatórios sobre pareceres e pareceres sobre relatórios. Consulta-se bibliografia. Fazem-se traduções. Pedem-se orçamentos. Cá dentro. E lá fora - só para confirmação.

Desafio: LER ATÉ AO FIM, sem parar ... E pedir aos amigos que tentem fazer o mesmo ...

Fazem-se contas. Abrem-se cartas. Reúnem-se as subcomissões. E as comissões. Erguem-se braços. Baixam-se braços. Cochicha-se. Sai-se. Entra-se de novo. A mesa é afastada com um voto de censura. Volta a votar-se. Por escrutínio secreto agora. Surgem novas caras na mesa. Votam-se novas comissões. E novas subcomissões. Consultam-se "dossiers". Fazem-se sindicâncias. Estudam-se reintegrações. Procede-se a um inquérito. Fala-se em saneamentos. Elaboram-se processos disciplinares. Discute-se futebol. E o entremeio da colcha. Chama-se o contínuo. Compra-se contrabando e envia-se um parecer. Para juntar ao relatório. Que anula o da comissão que mandara a subcomissão ouvir o parecer do técnico estrangeiro por intermédio do especialista nacional do outro ministério e que haveria de ser apensado aos orçamentos em tempo pedidos, mas que carecem de actualização.

Pedem-se novas propostas. Ouve-se a opinião pública. Solicitam-se entrevistas. Convoca-se a imprensa. A rádio. A televisão (do programa Prós e Contras dizem presente!...). Dá-se um prazo para sugestões.

Reúnem-se a comissões centrais. As distritais. As concelhias. As de freguesia. As de bairro. Que, por sua vez, emitem comunicados. Fazem reuniões. Comícios. Fala-se do assunto cinco minutos e a assembleia demora noventa. E aprova a proposta do senhor que estava na primeira fila. Por aclamação.

Conhecem-se agora todas as opiniões. As das bases e das cúpulas. Está decidido: 
haverá TGV, haverá nova Ponte sobre o Tejo, haverá novo Aeroporto em Lisboa e, em breve, vamos repensar o que inaugurámos na semana passada em Beja.


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