quarta-feira, 17 de abril de 2013

Zola hoje? *

* in Germinal (1885)
















"(...) - Porque não foram à missa no domingo, meus filhos? Fazem mal, só a igreja os poderá salvar ... Ora vá, prometam-me ir lá no domingo!

(...) - Prometer, senhor cura? Para quê? Pois não se está mesmo a ver que o bom Deus se não importa connosco?! Ora diga lá: - que foi que lhe fez a minha pequena, que ali está a tremer com febre? Não bastava a miséria, ainda por cima lhe mandou uma doença, quando nem sequer lhe posso dar uma xícara de cozimento?!

Então, em pé, o padre falou, extensamente. Explorava a greve, essa miséria atroz, esse rancor exasperado da fome, com o ardor de um missionário que prega aos selvagens para bem da religião. Dizia que a Igreja estava com os pobres, que ela um dia faria triunfar a justiça, chamando a cólera de Deus sobre as iniquidades dos ricos. Esse dia estava próximo, porque os ricos tinham tomado o lugar de Deus, haviam chegado a governar sem ele, no seu ímpio roubo do poder. Mas, se os operários queriam a justa partilha dos bens da terra, deviam-se confiar imediatamente à mãos dos padres, como por morte de Jesus, os pequenos e os humildes se tinham agrupado em torno dos apóstolos. Que força o Papa teria, de que exército disporia o clero, quando ele comandasse a multidão inumerável de trabalhadores! Numa semana limpar-se-ia o mundo dos maus, expulsar-se-ia os senhores indignos, seria enfim o verdadeiro reinado de Deus, cada um recompensado segundo os seus méritos, a lei do trabalho regulando a ventura universal.

(...) - Era melhor falar menos - rosnou bruscamente o Maheu - e principiar por nos trazer pão.

- Vão no domingo à missa - exclamou o padre - que Deus olhará por tudo (...)"

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