sábado, 21 de julho de 2012

Palavras cruzadas (XI) - O Sebastianismo

À memória do Prof. José Hermano Saraiva



O SEBASTIANISMO

in Os Lusíadas, de Luís de Camões

"E vós, ó bem nascida segurança
Da Lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena Cristandade;
Vós, ó novo temor da Maura lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Deus (que todo o mande,
Pera do mundo a Deus dar parte grande)"

in História de Portugal, de Oliveira Martins

"A alma lusitana, ingénua na sua candidez - tombado agora por terra o edifício imperial, desconjuntado e condenado o sistema de ideias patrióticas que desde o XVI século tinham dado a vida à nação - rebentava em soluços, buscando no seio da natureza, onde se acolhia, uma salvação que não podia esperar mais das ideias, dos sistemas, dos heróis, nem dos reis em que tinha confiado por dois séculos. A obra temerária dos homens caia por terra; e o povo abandonado e perdido, abraçava-se à natureza, fazendo do lendário D.Sebastião um génio, um espírito - e da sua história um mito.

O Sebastinismo era pois uma explosão simples da desesperança, uma manifestação do génio natural íntimo da raça, e uma abdicação da história. Portugal renegava, por um mito, a realidade; morria para a história, desfeito num sonho; envolvia-se, para entrar no sepúlcro, na mortalha de uma esperança messiânica."

in História concisa de Portugal, de José Hermano Saraiva

"(...) o sebastianismo manteve-se por muito tempo na consciência popular como uma espécie de nacionalização do messianismo judaico, que leva a acreditar, nas épocas de sofrimento colectivo, na vinda de alguém que se não sabe quem é nem donde virá, mas que nos há-de salvar a todos; nos meados do século XVIII, Alexandre Gusmão deu-se conta dessa afinidade entre sebastianismo e messianismo, classificando os  Portugueses em dois grupos: os que ainda esperam pelo Messias (os Judeus) e os que continuam a esperar por D. Sebastião. Mas o mito não foi só popular e serviu de base a especulações irracionais que chegaram a empolgar espíritos cultos. O melhor expoente do sebastianismo erudito foi o padre António Vieira, que procurou nas trovas de Bandarra argumentos para o seu grandioso projecto de um império universal, no qual judeus e cristãos aparecem reunidos numa Igreja nova e purificada dos antigos pecados. (...) Apesar de perseguido pela Inquisição (por esse e outros motivos), o grande pregador manteve essa certeza até ao fim da vida."

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