quarta-feira, 11 de julho de 2012

Intervalo (III) . com António Évora, actor, produtor e animador sócio-cultural *


* Entrevista na Casa do Artista, em Lisboa

- Que idade?


- 71.


- Mais novo do que eu ...


- Naturalidade?


- Sou da Atouguia da Baleia, concelho de Peniche.


- Actor, produtor, animador ... Dois episódios em cada função que lhe tenham dado maior prazer ...


- Como produtor, uma das coisas que me deu mais prazer foi trazer a Fernanda Montenegro a Portugal, no âmbito do Festival Internacional de Lisboa. Foi assim um prazer muito grande. E foi, sobretudo, importante conviver com aquela actriz espantosa e, sobretudo, mulher espantosa.


- E na função de actor, por exemplo?


- Sobretudo, a partir do 25 de Abril, uma das maiores experiências da minha vida foi correr o país de ponta a ponta e ver cine-teatros a cair de podres, casas do povo... Andei com uma companhia que era a Cooperativa Rangel de Oliveira. Fizemos "A Traição do Padre Martinho". Foi das experiências mais enriquecedoras e hoje é interessante voltarmos aos mesmos sítios e vermos, por exemplo, os cine-teatros onde representámos no meio de morcego, de ratazanas, com tudo o que possa imaginar-se, e sabê-los agora recuperados.


- Isso foi há quantos anos?


- A seguir ao 25 de Abril, com a descentralização cultural. E depois dessa viagem por Portugal, também estive em duas companhias de descentralização, em Vila Real e depois em Braga.


- Como animador?...


- Como actor e como animador.


- Uma situação embaraçosa ... Teve com certeza ...


- Claro que tive.


- Então conte uma que tenha mais presente ...


- Foi em Alcanena. Aquando da representação da Mãe, de Brecht. Durante o tempo em que estive em cena, uma cadelinha foi para o palco e nunca me largou, ao ponto de eu a levar para casa. Era uma cadela abandonada e como, antes do espectáculo, eu a acariciei, nunca mais me largou, entendeu que ali era porto seguro ...


- Isso não lhe causou qualquer embaraço?...


- Era curioso, porque era comigo. Eu andava em palco e ela ia atrás de mim ... Não me largava ...


- E o público?...


- Ria-se.


- Mas a cena, se calhar, não era para rir ...


- Tinha algumas coisas para rir, mas ... mas a cadelita acrescentava ...


- Qual foi a maior figura do teatro do seu tempo?


- Não quero ...


- Duas ou três ...


- Eu vou falar de uma actriz que, para mim, é uma das grandes actrizes deste país, já faleceu e foi esquecida - Isabel Castro. Porque, infelizmente, em Portugal, e não só em Portugal, cataloga-se um actor, uma actriz, como o melhor e o pior e depois esquecem-se os outros ...


- Há uma sombra ...


- Injusta ...


- Eu não estou a esquecer o Rui de Carvalho e a Eunice Muñoz, que são grandes actores. Mas além deles houve outros grandes actores. Eles não têm culpa, não é?!...


- Nenhuma!...


- Mas Isabel de Castro, quanto a mim, foi das maiores actrizes. Tanto no teatro como no cinema. Fez uma carreira espantosa em Espanha, no cinema espanhol e ... e foi esquecida, como muitos outros.


- "Mestre-sala", vamos tirar a fotografia "oficial" onde?...


- Ao pé de Laura Alves, por exemplo.


- Então vamos para junto de Laura Alves.

















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