sexta-feira, 1 de junho de 2012

Dia da Criança, sim, se amanhã for Dia do Educador

Ora aí está: Dia da Criança. Ora aí está uma boa razão para, na integra, publicar aqui uma Carta à Minha Neta  (que, ao mudar de possuidor, passou a ser Carta do Meu Avô), que rezava assim (rezava ... porque agora a moça já é quase mestra em Arqueologia):

"Antes de mergulhares (Deus queira que sim, já que é esse o teu agrado) nas sucessivas camadas de mundo que é suposto estarem por baixo das que pisaram os teus bisavós, dá uma olhadela assim à superfície, onde vires restos de bosta fresca e ouvires os sons dos badalos das vacas ... Apressa-te, antes que apareçam outra vez, de Bruxelas, os da política agrícola comum e lê o te tou dando a entender, moça!... Vá, não t'atrases ...











O monte

"Anos a fio a passar ao lado, desta vez entrei. Também com o castelo local acontecera o mesmo, até que um dia parei e fui adivinhar-lhe a história. Com uma diferença substâncial: é que, apesar de tudo, no monte alentejano, miraculosamente salvo dos mouros, ainda consegui surpreender résteas da vida de outras épocas, gotas da beleza simples das eras em que ninguém falava em vacas loucas e famílias inteiras nasciam, cresciam e olhavam o mundo com a mesma doçura com que amassavam pão.

A gente sabe que, se queremos emprego, o chamado progresso, por muito que desejemos a saúde da vida no meio da seara, é cada vez mais implacável no empurrão para as pressas (morre-se do "mal da pressa", ouvi a portugueses, algures, no outro lado da Terra).

Impuseram-nos a especialidade: é-se bom na couve portuguesa, mas não se consegue ser bom no tomate, na galinha poedeira, na criação de cavalos, nos enchidos, na soneca que aliviava cansaços. Tudo é feito a correr e em série. O sol deixou de ser luz e sombra para "virar" digital. E nós fomos nisso e passamos na estrada, às vezes, com frequência, sem nos darmos conta do que ainda há por aí, para lá dos sobreiros, longe do asfalto, quem respire num monte, qual castelo, o ar dos tempos em que a carne se comia sem medo, o leite era engolido à beira-teta e a bosta cheirava ao que era. Ai como eram bons os tempos do estrume puro."

Tinhas 7 anos anos quando escrevi isto - e, portanto, a Arqueologia que abraçaste estava, na realidade, longe. Ou não estava?... Pouco importa: hoje é dia dos mais novos. E a tua Arqueologia já está a cumprir-se, não porque eu ta tenha insinuado, mas porque ... mas porque é bom saber como era para tentar melhorar o que é, e pode vir a ser ...

O que se exige em Dia da Criança é que os encarregados de educação, tanto quanto lhes seja possível, ajudem a crescer os que, mais novos, se ninguém lhes disser nada ... Olhe-se à volta. Dia da Criança, sim! Se amanhã (hoje mesmo) for Dia do Educador e oportunidade para lhe lembrar deveres. Que é o que falta. Não raro. Antes das lágrimas, que se não desejam.

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